Devo comunicar que passei a gerir a minha vida de forma semelhante ao governo do país pelo nosso actual Governo. Afinal, eles é que sabem. Digo mais, funciona, ora note-se:
No trabalho, passei a ficar mais horas no café, dessa forma, consigo sair mais tarde sem esforço e aumentei a minha produtividade em 12%. Refira-se igualmente, que apliquei uma reforma "simplex" ao meu trabalho e reduzi drasticamente o tamanho dos meus pareceres, (poderia ter tentado reduzir outra coisa mais, mas os pareceres eram a reforma mais fácil e demagógica), assim, consigo escrever mais 20% de número total de pareceres ao mês, o que dá resultados estrondosos ao final do ano. O meu chefe, a quem agora chamo carinhosamente "Bruxelas", ficará certamente contente. Diga-se igualmente que continuo a discutir alegremente com os meus colegas de sala, mas desde que adoptei uma política de consertação social de acordo com o actual governo (e sejamos honestos, os últimos 5 governos), não me preocupo com o que eles dizem. Só isto reduziu a estatísticas das minhas preocupações em 7% e levou à auto-proclamação da minha nova política como um sucesso.
Na minha vida pessoal, os resultados têm sido igualmente satisfatórios, certas contas tenho de pagar, mas outras realmente não. O seguro automóvel por exemplo, por ser algo que afecta apenas terceiros, deixei de pagar (obviamente foi uma séria redução do défice). Para fazer face ao aumento dos bens essenciais, nomeadamente da gasolina e da energia em geral, criei um imposto em casa, agora, uma taxa liberatória de cinquenta cêntimos aplica-se a quem quiser usar o computador. Infelizmente, não tem funcionado muito bem, os meus filhos passaram a usar menos o computador e a não entregar os trabalhos na escola e o que eu queria mesmo era a colecta da taxa. Contudo, a questão da educação dos meus filhos também a resolvi bem, transferi-os para uma escola pior, assim, as notas deles subiram em aproximadamente 10% sem na verdade estudarem. Quanto a livros escolares, usam os livros do 1º ciclo apesar de estarem no 3º ciclo, assim estão mais bem preparados para os exames nacionais. Ao jantar, todos dissemos que somos todos muito inteligentes e assim subimos a moral familiar. Em seguida, criei um sistema de multas para quem não segurasse bem os talheres e mastigasse de boca cheia, a receita reverterá para mim, é claro, mas com consignação de dez por cento para a minha mulher, a quem competirá decidir da justiça da aplicação da contra-ordenação. O objectivo deste regime é claro, só e apenas garantir educação à mesa. Para acautelar a independência e isenção na sua aplicação, o regime não se aplica nem a mim nem à minha mulher.
Como os meus filhos não saberão ler daqui a uns anos, comecei a vender os livros que havia cá em casa, o rendimento extra tem sido usado em despesas correntes minhas e da minha mulher, afinal, a vida está cara e o novo BMW é a coisa mais linda do mundo, pese a desvalorização do carro ser óbvia. Se a coisa descambar, faço um empréstimo sobre a casa e o défice familiar ficará corrigido.
Como os beneficiados sou eu próprio e a minha mulher e entre nós dividimos o governo da casa, decidimos tratar as novas regras como "política de estado", apesar do meu sogro lhe ter chamado "concertação partidária". Como nunca percebi a diferença entre estado e governo não sei bem o que é que ele queria dizer, mas chumbámos a ideia por nos parecer perigosa.
A única coisa que correu mal foi o futuro, tentei hipotecar o futuro da minha familia, mas devido ao novo pacote legislativo familiar, disseram eles no banco, não aceitam.