segunda-feira, 29 de outubro de 2007


Direito de resposta em tom de comentário ao excerto publicado dos arquivos de Bolivar

Caros colegas da Bolivar Media enterprises:


Foi com honra que aceitei participar neste blog. Kyon, para os menos atentos, vem da palavra "cão" em grego e deu origem ao termo "cinismo". "in the rye", vem do "catcher in the rye" do Salinger, de alienação e angústia. A ideia de participar convosco pareceu-me entusiasmante considerando que há muito tempo me dedico à leitura dos curioso legado escrito deixado por Fernando Bolivar.


Contudo, estranho a vossa última selecção de escritos dele. O texto é sentimental. melhor dizendo, revela que Bolivar teve sentimentos. Ultrapassados ele diz no final, e provavelmente di-lo honestamente pois a análise dele é cerebral demais quando comparado com os textos amorosos e gravações de k7's velhas que se encontram no baú do seu espólio, mesmo assim tem sentimentos.


Para mim, este blog serve para nos recordar da inutilidade dos sentimentos e do esforço na vida em qualquer momento pelo que quer que seja. É por definição e na sua essência, cínico.


Ora nada há de cínico no amor e, consequentemente, nada há de cínico na falta de amor. Aquele que não se sente apaixonado e se sente abatido, não está sequer perto de ser cínico. Cínismo é a total falta de crença na virtude humana. Aquele que se encontra magoado, encontra-se magoado com a virtude humana, ferido na sua condição humana e, consequentemente, acredita nela. Não lhe é neutro.


Ora Bolivar era um cínico, um verdadeiro cínico, Bolivar não ligava a Diógenes porque ligar a alguém seria pouco cínico. Bolivar amou? Também kiekergaard acreditou em deus quando estava às portas da morte, isso não faz com que deixe de ser visto como um profundo existencialista.


Há amor num cínico? Não. Houve amor em Bolivar? Não neste bolivar que queremos aqui recordar, nem mesmo em momentos como este. Em que ele criticou a forma humana de viver um sentimento a partir da critica de quem o viveu

terça-feira, 23 de outubro de 2007



Amor Causídico


Sim, neste blog também há espaço para falar sobre o amor. Faz parte da puta da vida e é um fertil terreno para discorrer sentimentos cáusticos. Claro que há espaço para falar sobre o amor.


No domingo fui acordado com o telefone a tocar, seria a uma da tarde e não reconheci o número. Atendi e era uma ex-namorada. Não uma qualquer, mas um daquelas que foram porcas connosco e seguiram em frente, nos cuspiram e nos fizeram ouvir Smiths durante meses a fio e nos obrigou a enterrar em noites de copos na rua com amigos tentando esquecer que nos sentimos miseráveis. Sim, uma dessas, todos temos.


Estava perto de minha casa, convida para um café enquanto espera outra coisa qualquer no plano egoísta do dia e feito parvo, ainda com sono, aceitei. Aceitamos sempre não é? Nunca nos livramos daquele sentimento misto, por um lado um desejo secreto que seja atropelada por um TIR e por outro que o acidente, embora grave, seja curável e que reconheça o facto que ficámos a dormir ao lado dela, com sorte lendo durante o coma e nos agradeça o resto da vida com amor genuíno.


bom, durante o café, recorde-se que somos os dois formados em direito, há um processo a seguir, vício profissional #1, há sempre um processo, mesmo quando é daqueles em que, ao bom estilo de kafka, nos sentimos o cão abatido sem saber porquê. Um processo lento e doloroso (vício profissional #2, o processo é sempre lento e doloroso) em que discutimos as novidades, ou melhor, não as discutimos, perguntamos as novidades não querendo saber ao certo grandes pormenor mas com ansiosidade estamos presos a cada palavra. Entra então a matéria de facto, uma narrativa de factos, (vício profissional #3, primeiro a matéria de facto, depois a matéria de direito), começa-se pelo trabalho, ou a familia, ou a conta do mecanico ou o que for, um facto trivial cai sempre bem, como se fosse a piada que inaugura o discurso (vicio profissional #4, de certa forma, há sempre uma bancada para a qual falamos). Em seguida, ela larga, em tom de bomba, "eu e o Zé continuamos bem". Ora foda-se, é aqui que se revela todo o animal jurídico dentro da pessoa. A notificação que a relação corre bem. Note-se que usa o nome de uma pessoa que nem conhecemos, mas tem de notificar, porque senão, perde-se o caso, (morre a argumentação!), ora note-se.


V dixit (não, não se chama Vanessa, ou vicki ou outra coisa qualquer, é mesmo porque nunca deixou de ser vaca): a minha irmã está bem... ... eu e o Zé também estamos bem e o meu cato morreu (a parte do "e o meu cato morreu" pode ser substituida por qualquer outra informação irrelevante), o que é fantástico é a falta de pausa. Assim, estou notificado. Há uma relação, se eu sabia dela não posso dizer que ela me escondeu o facto. Assume que me interessa saber (que lata... a dobrar porque de facto quero saber), sabe que há uma luta escondida dentro de mim para querer saber e querer não querer saber, e resolve-a, dando vitória ao lado que mais lhe interessa. toma, toma, fica a saber e a pensar nisso.


É curioso o jogo, uma dança das abelhas vestidas de toga que argumentam, antecipam a prova, ganham o caso. Indicam logo, há alguém e estamos felizes. Mas não como quem o esfrega na cara de alguém, apenas como alguém que se defende por antecipação, eu avisei. eu disse que estavamos bem. não podes dizer que não avisei. não podes dizer nada. não tens razão. sou feliz. estou com outra pessoa. não quero saber de ti. ganhei!


E como sempre, quem ganha fica com os espólios, neste caso, o Zé.


De que me serve ter ultrapassado a coisa? De nada, a batalha legal continuará sempre em recursos intermináveis, ex-relações causídicas são cansativas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007




Não fique aí a dormir

Não, não vou fazer um grande elogio ao café Nicola, muito embora admita que é o meu café oficial do Rossio, vou-me focar em algo que certamente todos os tomadores de café deste circo em que vivemos terão notado. A campanha publicitária da Nicola.
A Nicola decidiu bombardear-nos com frases de "uma dia farei isto e aquilo..." todas ligadas à felicidade e ao aproveitar do momento. Infelizmente, parecem mais tiradas Hollywoodescas do que momentos das nossas vidas reais e, considerando que nos filmes ninguém bebe café Nicola, decidi fazer a minha própria proposta de campanha Nicola. Ora não pense que hoje o dia é o dia em que vai encher o quarto da sua mulher de flores, ninguém anda realmente a pensar quando é que vai encher o quarto da mulher se flores, sejamos honestos, hoje é o dia para:

- Um dia parto a boca ao meu chefe;

- Um dia digo que vou comprar tabaco e que volto já;

- Um dia deixo de resistir à minha secretária;

- Um dia mato a gaja;

- Um dia deixo de pagar a renda;

- Um dia contrato um Ucraniano para dar porrada no meu inquilino que não paga a renda;

- Um dia vou procurar emprego;

- Um dia vou-lhe ao cú e nem aviso, estou farto de esperar;

- Um dia vou sair de casa;

- Um dia falto ao emprego e não digo nada;

- Um dia parto o carro deste gajo à bastonada;

- Um dia afogo o puto que não pára de chorar;

terça-feira, 16 de outubro de 2007






Uma geração - Parte I



O mundo está feio, assim o dizem a boca cheia, o mundo que herdámos é desdenhado por todos. As gerações mais velhas, fazem-no com pena, mas limitada a quem sabe que este mundo é mais para nós que para eles. Nós contudo, os da nossa geração, deixamo-nos arrastar num conformismo que apenas tem uma vitima, nós que neste mundo teremos de viver. Quem me dá um carro velho dizendo que não presta, pode até ter razão, mas cabe-nos a nós restaurá-lo, não aceitar com derrotismo que nunca será um bom carro.

Discutir se a culpa dum antecipado e anunciado fracasso da nossa geração é nosso ou não, parece-me uma discussão sem grande sentido ou utilidade prática. Não só porque tal discussão será, no mínimo precoce, como o único sinal de falhanço que encontro na nossa geração é a fragilidade perante uma morte anunciada. Esquecem-se contudo que, mortes anunciadas, dão pelo menos a tranquilidade de sabermos quando e como vamos morrer e essa informação ainda ninguém nos deu.

Mortas estão gerações anteriores, mortas estão aquelas que nos deviam dar exemplos, em Portugal e não só. Poetas que cantaram alma trans-lusitana queixam-se hoje da libertinagem que ocupou o lugar que tinham idealizado para a liberdade. É verdade, mas quem falhou foram os poetas que se julgaram oráculos. Não o são, e um mundo que não é feito de poesia é um fracasso vosso, não nosso. Descansa poeta, também poeta algum alguma vez alcançou um mundo de poesia, seria a vossa morte.

Mortos estão os políticos anteriores, que em cadáveres parlamentares se transformaram, grandes revolucionários que me saíram. Daniel Cohn-Bendit, que pediste o impossível, acabaste no Parlamento Europeu a defender os verdes. À altura parecia impossível, de facto, que algum dia vendesses o teu sonho. Não te preocupes Revolucionário, não te preocupes que alguma revolução, em algum canto do mundo, será vitoriosa (mas um dia fracassará, quando deixar de ser revolução e for uma nova ordem a abater)

Mortos estão os terroristas de sonhos marxistas. Os de sorte, alguns de sorte, que outros vivem marginalizados enquanto criminosos. Piancone, um dos comandantes das Brigadas Vermelhas, foi preso este mês por roubar um banco. Não te preocupes Revolucionário, a culpa não é tua! Todos sabemos que um terrorista é um ladrão com um ideal. A ti, roubaram-te o teu ideal fazendo-te mero criminoso, roubaste-os de volta do ideal deles. (170.000 euros de ideal capitalista ao que parece).

À queda do Muro de Berlim seguiu-se este mundo, estes mascarados sob esquerda e direita que nem no alfaiate se fazem diferenciar. Todos apontam na mesma direcção na altura de fazer as calças. Foi neste mundo que crescemos, onde nos querem fazer acreditar num inimigo sem máscara vindo das Arábias. O único inimigo contudo que vemos é o do dinheiro com personalidade juridica, os Trusts, as SA, que crescem, sem realmente nos querer mal, apenas nos acarneirando e alimentando ao mesmo tempo. O pior deste mostro, não é ter sete cabeças, é não ter cabeça, é avançar cegamente e alimentando-nos enquanto nos devora. Que paradoxo que tudo isto é, mas onde raio anda a antítese desta horrível síntese?

quinta-feira, 4 de outubro de 2007


Nesta era pós euro 2004 de lugares cativos, não deixe a sua imagem de treinador de bancada por mãos alheias. Partilhando sempre o mesmo lugar de estádio, está condenado a ouvir sempre os mesmos comentários.Pois bem, Esqueça o transistor que o permite acompanhar o relato. Surpreenda, e surpreenda-se, com o nosso inovador curso de treinador de bancada. É simples, substitua os termos que usa por novos termos:

"Seus palhaços!" não é um termo técnico correcto, para além do mais insulta uma honrosa, embora quase extinta, classe profissional: "Seus artistas deste maravilhoso desporto rei que nos fazem rir tão mal que jogam que mais parecem profissionais circenses" é um termo muito mais correcto.

"O árbitro é cegueta", é um comentário clinicamente fácil, mas pouco digno de um treinador de bancada como pretende ser, tente antes "Este senhor claramente foi fruto de uma nomeação dentro do sistema cegueta". Pode também completar com: "já nos roubou no jogo com o Beira-mar na época 1992-93". Claro que não se lembra do jogo, mas também mais ninguém se lembra.

"Passa essa merda, pá!" essa famosa expressão, a usar várias vezes durante o jogo. Deve ser alterada para "joguem em colectivo, criando espaços e aproveitando as diagonais, pá!".

"vocês não jogam um caralho" (porquê pensar que um treinador de bancada não tem direito a flash interview a caminho do carro após o jogo?), todos se espantarão com "foi um jogo menos conseguido e não têm continuado a trabalhar, caralho!".

"cambada de chulos", é claramente uma expressão que um profissional de futebol como pretende fingir ser não poderá usar, tente "cambada de seus jogadores de rendimento inferior ao previsto nos vossos bem negociados contratos de trabalho, chulos!"

"chuta, foda-se, chuta" linguagem bárbara a qual, admita, não está ao nível do seu fato domingueiro para almoçar no colombo e acompanhar a partida na nova luz. Deve usar: "façam uso da vossa meia-distância aprobveitando a fraca pressão da defesa oposta, foda-se".

Finalmente, quando visar o árbitro e sentir uma vontade incontrolável de gritar: "mata a tua mãe e faz arroz de puta, meu cabrão", lembrem-se do vossos estatuto de sério treinador de bancada e simplesmente exclamem: "Deixe de nos prejudicar sucessivamente só porque... ah! que se lixe, diga mesmo como ela é, não há pose possível de perder quando se está num estádio de futebol!"

terça-feira, 2 de outubro de 2007



A política em regime self-service


Filipe Menezes foi eleito. O que segundo Marques Mendes quer dizer que as eleições não foram justas e honestas. Mais importante contudo que a opinião do rato sobre o gato é que sei que estou longe de levar o Marques Mendes a sério. Muito provavelmente, é o facto da vox populi nunca ter levado Marques Mendes a sério que fez com que, no seu próprio partido, fosse deposto internamente.


Grave para o PSD não será estar lá o gato ou o rato, nem o facto do gato ter incumprido, em praticamente todos os anos de mandato na sua autarquia (república independente de Gaia da qual foi soberano ditador), com os limites de envididamento da autarquia (até porque isso passou impune), o que é realmente grave é as previsões de derrota nas próximas eleições, mas, mais grave mesmo que tudo o resto, é a forma como estas eleições foram conduzidas, nada mais nada menos do que num autêntico lamaçal de acusações.


A quem não tenha ainda notado, a política portuguesa, e não só o PSD, está entregue a distintos espécimens que fazem inveja ao elenco da obra de George Orwell sobre o seu triunfo. A quem não tenha notado, a vida política é vista hoje em dia como uma forma fácil, não de servir as pessoas mas de cada um se servir a si. Mais se pode dizer que, a quem não tenha notado, se informa que a mentalidade self-service está presente em todos os estratos dos partidos políticos e isso nota-se, nota-se muito bem nos seus comícios, nas suas guerras e comezinhas discussões.


Não é de hoje que a sociedade olha para as máquinas partidárias com um sentimento de desconfiança. Não existe nas pessoas desfazadas da política em Portugal uma compreensão das punhaladas, intrigas e lutas que existem nos núcleos partidários, procurando-se um lugar ao sol a todo o esforço. Não é possível, hoje em dia, esperar, ou sequer exigir, uma limpeza moral nos partidos políticos portugueses entregues a uma organização interna de vandalismo e vassalagem a pessoas que pensam que, com um fato vestinho, tudo encobrem. Hoje, esperava apenas um pouco de "encobrimento" do que se passa.


Sim, escrevo-o a letras claras para que não reste dúvida. Hoje, com os que se sentam no poder, já só lhes pedia que tentassem, (nem que conseguissem, mas que tentassem) encobrir a sujidade em que se rebolam. É que eu não sou político, sou independente, e por isso, aquilo a que se sujeitam nas suas máquinas partidárias, em nada me tocam. Mas quando tudo isso fica exposto na mesma sociedade em que todos os dias me esforço por fazer a minha vida e tentam encobri-lo de forma tão fraca, já sinto que me estão a tratar como estúpido.


Como dizia a amiga da Mafaldinha nos livros do Quino, devidamente adaptada a este post, eu não quero justiça social para os pobres, basta que os escondam.



Manual de esperteza: prólogo



Alguma vez quis saber tudo? alguma vez pensou que aquele gajo no café que fala imenso é genial? Pois saiba a verdade, ele apenas sabe fingir que sabe de tudo e não sabe de nada.

Está cientificamente provado que quem finge saber tudo tem mais hipóteses de engatar do que quem admite com humildade ser a pessoa que é. Também está provado que há mais hipóteses de ser um perfeito anormal, mas isso não faz mal nenhum, pois está em Portugal.

Convencido? Aplique então os seguintes princípio e será também um verdadeiro português, ou seja, um perfeito anormal que finge saber tudo:



1. Faça a sua própria página na Wikipedia, invente-se, passe-se por mais esperto do que realmente é;



2. Use abreviações e muitas iniciais. "Aquele tipo, o J.P., não é um perfeito anormal, é um P.A.";



3. Invente um título académico. A sério, não faz mal, o nosso primeiro-ministro ensina como (e nem preciso dizer como a wikipedia trata bem o Sócrates, qualquer um deles);



4. Fale com segurança e certeza. Em vez de projectar a voz do tórax como se crê que se deve fazer, projecte-a dos tomates. Esteja sempre um passo à frente dos outros. 9 em cada 10 vezes falar mais e por cima dos outros não é visto como má criação (embora seja), mas como firme convicção;



5. Invente coisas. Não tenha medo de ser apanhado. Se for, invente mais um detalhe importante "um pouco obscuro e que ninguém na verdade sabia", será uma espiral de inteligência aos olhos dos outros;



6. Invente um tema secreto sobre o qual sabe muito. O Dan Brown inventou um e só ele sabe falar do Código da Vinci. Se alguém tentar questionar ou mostrar conhecimentos semelhantes, é porque faz parte da cabala, seja acusativo perante tal ameaça;



7. Cite autoridades inquestionáveis, "sei-o porque Deus me disse". Ele é uma autoridade sempre dificil de contestar;



8. Crie o hábito de lançar nomes na mesa: "Estive com o próprio Manuel Amaro Cunha e Silva sabes? Ele disse-me que..." ou, para maior eficácia na sua auto-promoção, use-os casualmente em conversação: "ontem fui jantar com o Pedro Menezes, o Tiago Amaro e o João Costa e à saída...";



9. Para extrapolar ainda mais o ponto anterior, um dos nomes inventados deve ser pretencioso, contudo ridiculo: "Não, a Mariana Mata Nobres, essa mesmo". Vai causar um orgasmo de emoção e respeito no seu público idiota;

10. Fale em montes no Alentejo, não só porque é "bem" ter um como é sinal de inteligência encontrar um monte numa lezíria plana;

11. A sua filha não é professora de filosofia sem colocação, é filósofa;

12. Mude de telemóvel de 3 em 3 anos e carro de 2 em 2 anos, não tem realmente que dizer nada, mas em Portugal faz de si uma autoridade.