sábado, 20 de setembro de 2008




Hotel Zagreb

No Hotel Zagreb não se fazem grandes negócios. Não somos recebidos num hall de entrada faustuoso por um recepcionista de fato e modos delicados. No hotel Zagreb não pagamos 10 dolares por meia hora de uso da rede wireless disponibilizada a preços económicos aos hóspedes. Não, no hotel Zagreb os grandes negócios fugiram ainda antes das baratas terem escapado. O cheiro de flores do dia foi trocado por um cheiro de fritos que atravessa o restaurante, passeando pelos bigodes dos hóspedes dignos de tal sítio, recebendo todo e qualquer hóspede dessa grandiosa instituição. No hotel Zagreb, a recepcionista olha com ar desconfiado a nota que recebe e, cheirando-a, consegue ver se é verdadeira enquanto larga uma chave presa por um cadeado excessivamente pesado. No Hotel zagreb uma alcatifa velha e de cor desbotada acompanha-nos até ao quarto. É um edifício velho, com ar de construção soviética, de dois andares que se prolongam de forma monótona. Do senhor da fotografia de cor desbotada da brochura que nos entregaram, existe apenas um velho cansado que, no seu fato desbotado, fala em tom agressivo com um homem velho o qual, sentado numa cadeira desconfortável no hall de entrada, passeia os seus olhos pelos hóspedes que passam. Certamente, quando o hotel tem menos clientes, o velho passeia ele próprio pelos corredores, tocando as paredes e recordando os tempos de comunismo em que aquele edifício tinha mais orgulho, mais valor do que tem hoje, enquanto recebe os ténis deste velho que se passeia em fato de treino.
O quarto tem o distinto cheiro de quarto nunca lavado. Sem poças de sangue nem baratas, só se pode concluir que estas se mudaram para um sítio mais limpo. Debaixo da tampa do aquecedor encontra-se um aquecimento a óleo, o qual nunca foi ligado e sustém duas meias, esquecidas por alguém que esteve um dia naquele hotel. Os tons de vermelho e verde dos quartos faz imaginar fardas da stazi pintadas por kandinski e os canos exteriores da casa-de-banho, quando abanam por alguém noutro quarto usar as instalações, transpiram e reclamam por uma substituição.
É assim o Hotel Zagreb, onde grandes negócios já não se fazem, onde os hóspedes não se fazem por encontrar, onde o único fato que por lá passeia, é de treino. É aquele mesmo hotel, onde as fotos promocionais se fizeram em polaroid apanhando um dono que se orgulhava e que hoje, vê o seu hotel envelhecer como ele.

domingo, 14 de setembro de 2008

Eleições nos EUA

Sim, eu defendo que todos devemos falar com autoridade sobre temas que vão muito mais longe do que a nossa esfera de compreensão, falar sobre temas dos quais não compreendemos a fundo. Desta arte, onde basta fazer ar de quem sabe o que diz depois de ler três paginas da newsweek, aprendi tudo o que sei com o Nuno Rogeiro.
As eleições nos Estados Unidos da América, lia no outro dia, serão a escolha dos Estados Unidos sobre o género de liderança que pretendem ter internacionalmente no que poderá ser o último decénio de dominio internacional claro deste país.
A emergência de novas potências como a China e a India colocam o modelo de dominio ango-saxónico em causa e consequentemente, obriga os Estados Unidos a tomar uma posição, ou conciliadora e conversadora (quem nunca esteve à rasca e não se sentiu tentado a recorrer ao velho recurso do: "...mas querida, não podemos falar sobre isto?") ou endurecimento da posição militar aproveitando a hegemonia neste campo que ainda têm (ou "trocar o mau argumento por um bom soco nos queixos"), Votar Obama ou Mccain é escolher, correspondentemente, a primeira ou a segunda atitude.
Cá para mim, independentemente disto poder ocorrer ou não, continuo a achar que os Americanos votam internamente, ou seja, o PIB americano e a taxa de desemprego são os elementos que realmente decidem eleições naquele país.
A tragédia é que todos nós sofremos com a escolha dos americanos para quem será o seu presidente, mas direito de voto naquelas eleições ninguém nos dá.
Obama ou Mccain, nenhum me serve, pois nenhum tem qualquer interesse no meu bem-estar. (para esse efeito o verdadeiro infortunio é que aqueles para quem eu voto também não se preocupam com o meu bem-estar, mas isso é outro problema).
Entretanto, enquanto tudo isto se passa, membros do staff da casa branca passeiam pelas zonas do globo em termos que mais se assemelham a representantes de Roma que andam pelas provincias, e quando o Chavéz expulsa o embaixador com um "vayanse al Carajo, yankees de mierda", começo imaginá-lo como "HugoChavix", o gaulês que fez o manguito ao império.

A ver no que dá, conciliação ou repressão.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

"aquela"história



Antes de mais tenho de deixar claro: Eu não sou sportinguista. Tenho igualmente que deixar claro, este post é sobre muito mais que futebol, é sobre coincidências e sobre uma negra premonição.

A selecção nacional da minha infância voltou, subitamente, enquanto a Dinamarca marcava o terceiro golo, nos segundos em que aquela bola voava para dentro da baliza, vi tudo.

Vi o estádio de Alvalade, vi o Queiroz no banco e uma cambada de loiros que me pareciam o Casino de Salzburgo.

Portugal voltou a ser o que era, não uma cínica equipa ganhadora, mas sim aqueles gajos que toda a gente que não é Portuguesa gosta, porque jogam bem mas nunca ganham.

Lembrei-me de uma amiga minha também, aquela que diz que os homens são como o Sporting, desiludem sempre.

Relaxem, voltámos ao que sempre fomos. Pelo meio perdemos um euro e tal, mas é sempre relaxante não ter grandes expectativas, faz com que tudo o que venha seja ganho