quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Ryan, o viajante" e "anónimo, o navegador de internet"




Há poucos dias o projecto de domingo à tarde foi um verdadeiro projecto de domingo à tarde.Cinema.

O filme foi o "Nas Nuvens", "Up in the air" de Jason Reitman. Porquê? Era um filme de domingo à tarde. (sic!) A conclusão? A conclusão é que "Up in the air" is more than what catches the eye. 
A história de Ryan com o seu emprego em que é obrigado a voar pelo país inteiro constantemente fazendo a sua vida de quartos de hotel pode ser transposta para uma realidade actual que fica além das milhas somadas a voar na American Airlines. A forma como hoje vivemos em contactos com as nossas "redes sociais" encaixa-se perfeitamente neste filme. 
O facto é que as redes sociais são uma realidade com alguns anos, mas nunca como nos últimos dois anos, redes como o facebook e o twitter tomaram tanta relevância. Se são um mero hype ou se vieram para ficar de forma definitiva, o tempo o dirá, mas que marcam a nossa forma de comunicar com as pessoas que nos rodeiam, dúvido que o cunho não fique para relações futuras. 
A semelhança entre as duas realidades, "Ryan, o viajante" e "anónimo, o navegador de internet" é da superficialidade das relações criadas. Costumo dizer que a grande vantagem do facebook e twitter e "alikes" é que, com alguma habilidade, possibilitam manter à distância pessoas, deixando-as sentindo que estão perto. A troca de futilidades e comentários de ocasião, transmitem uma sensação de companhia que, na verdade, não está lá. É essa realidade desumana que Ryan partilha, vivendo em movimento e em total distanciamento de relações reais, e é isso o melhor que podemos tirar do filme, como todos podemos criar uma vida confortável afastado do "peso" das relações humanas que realmente importam, um mundo sem solidariedade e trocámos os nossos amigos por cartões de fidelização nas principais marcas. O aparente conforto que existe nesse mundo, que nos tenta fazer sentir especiais é, afinal, um grande nada perante o que realmente conta. A vida a sério, a vida em comunidade, a vida com pessoas em nosso redor que nos dão trabalho. Pessoas, com quem temos relações das quais não podemos fazer Logout
Sob um George Clooney clonado do Michael Clayton esconde-se um herói pícaro moderno, que se dá conta um dia da fantasia (da virtualidade) da sua realidade, precisamente quanto tenta quebrar o ambiente em que ele se rodeou, é uma missão dificil, senão mesmo impossível. Quase tão impossível como tentar ter uma conversa séria em 160 caracteres tweetianos.

É nesse plano, que Up in the Air ganha interesse.


quarta-feira, 15 de abril de 2009




A mania das apostas? Não sei... vem de lá de trás, do tempo em que era um mero átomo. Lembro-me bem por acaso, que com a idade o mais recente é difícil de lembrar, mas a meninice fica mais presente.
Eram épocas conturbadas, a contínua expansão da matéria que na altura nem nome de matéria tinha, deixava-nos todos muito confusos, então começámos a pensar o que ia acontecer, tentar antecipar os movimentos "ali...bom, ali é capaz de aparecer uma Supernova, naquele espaço vazio". Não tínhamos medo, éramos jovens e tínhamos todo o tempo do mundo, aliás, cada vez tínhamos mais tempo pois o tempo estava a expandir em conjunto com a matéria. O universo, sabem, é uma máquina perfeita em funcionamento, e depois de apanharmos o ritmo, conseguimos prever mais ou menos como tudo vai acontecer. Modéstia à parte, eu era bem bom naquele jogo, devia ter nascido relojoeiro.

Ora, eu calculo que Carlos Magno vai ser coroado no ano de 800 disse eu, alguém quer desafiar? - para espanto de todos à minha volta - e então alguém disse "nada disso, ele morrerá antes, a tentar conquistar a saxónia". De repente, sentimos todos algo pela espinha abaixo, tinhamos inventado uma coisa nova. Foi assim, uma excitação que durou vários milhares de anos breve, portanto, mas que foi depois sedimentando-se como hábito.

Hoje já não faço apostas, desde que falhei o vencedor da final do mundial de futebol de 1966, ainda assim, arrecadei uma colecção séria de berlindes (sempre apostámos berlindes, não tinhamos mais nada para apostar), nesse dia, em Wembley, estava seguro que ia ganhar mais uma aposta, nem suspeitava que seria a última, mas quando vi a Inglaterra levantar a taça... fartei-me da matéria, larguei o jogo e, claro está, apanhei o autocarro para casa.

segunda-feira, 13 de abril de 2009


é uma comichão, um peso. Não uma cruz, que lá por ser Páscoa não sou desses... é algo que pesa, um sentimento de vagar, que nos atrasa. Feito de melancolia, prende-nos. Lia as mil e uma noites e aparecia uma citação do profeta que dizia: "escravo da sua casa é qualquer homem que se julga livre". (isso num contexto de três mulheres que faziam a delicia a viajantes, que Bagdad de sonhos era aquela...). Do seu espaço um homem tem dificuldades em sair, de soltar amarras, largar tudo o que tem, embora seja certo e sabido que no fim da vida nada levaremos connosco, é o resultado da construção, vida torta, ainda assim tentamos sempre alargar as fundações. Que mel que nos gruda ao nosso sítio. Que conforto na banalidade,

e ainda assim deixamo-nos ficar. Onde está quentinho, onde, pensamos sabendo que não é assim que não nos poderão magoar. Ainda que só caindo aprendemos.

Coisa estranha esta da vida, que tudo de bom dá, que tudo de bom tira

quinta-feira, 2 de abril de 2009



The Queen and the iPod


Não dá para não reparar, o Obama levou como prenda à Rainha de Inglaterra um iPod. o qual será tão útil à rainha que servirá de prenuncio à utilidade da reunião dos G-20 para resolver a crise económica; prenda que me fez sentir bem, é que por momentos imaginei o Sócrates, de magalhães na mão, a encontrar-se com a rainha de inglaterra, ou pior, o Sr. Silva, com aquele aspecto de...enfim, aspecto de Sr. Silva, com um magalhães na mão. Tudo com coberturas da SIC e da TVI e da RTP sobre a importância das relações entre Portugal e Inglaterra, tudo com a cereja no topo do bolo, que seria as reminiscências históricas de nos recordarem como Portugal e Inglaterra são os mais antigos aliados do mundo, etc,etc,etc... toda a máquina de propaganda em tentativa de elevação do espírito nacional, agora ali, na mão do Sr. Silva, naquele magalhães.


Melhor só imaginar os dois sentados ao lado um do outro, o Obama e o Silva, ambos à espera de serem recebidos, e a fazer o que todos os homens fazem...comparar brinquedos.

terça-feira, 24 de março de 2009

Hisae Watanabe

O nome, Hisae Watanabe. Conhecem? Pois eu também não. Ou não conhecia até este momento. E conheço tanto como vocês conhecem. Ou seja, estou a falar da Hisae no mesmo momento em que escrevo isto. Enquanto googlava algo diferente, encontrei a Hisae, a fotografia apaixonou-me, foi assim, de imediato, golpe directo com luvas. Esta pose, deixou-me convencido, o ar tranquilo de vencedora. Ela não é o Rocky, na vida não há Rockies, há inteligência, há treino, há equilibrio pessoal.
Esperarmos que outro nos leve ao ringue para vencer o cinto, nunca nos colocará lá. Termos noção da sala onde estamos e que o sítio onde estamos em determinado momento é que faz de nós o que somos nesse mesmo momento, é aquilo que todos sabemos e que Hollywood teima em não mostrar.
Não vejo o rocky nesta imagem, vejo um lutador, com pontos fortes e fracos, com possibilidade de ganhar e com a certeza de perder se ficar parada muito tempo no mesmo sítio ou se relaxar a guarda. Ela sabe, por isso desfruta o momento, mas ao mesmo tempo, não é uma deusa, é uma lutadora, com tudo o que de humano isso leva atrás.

Neste momento fotografado, a sala dela é um ringue com um cinto de campeã, e é quem ela é, campeã.


segunda-feira, 23 de março de 2009

Disclaimer: Este blog não é táctil, nada aqui se toca, o único efeito que terá por tocar neste ecran é engordurar o próprio ecran.

É um ódio de estimação. ultrapassa os telemóveis no cinema, falo de ecrans tácteis. Falo, na verdade, não dos pobres ecrans, mas na forma como os seus donos os usam. iPhones e etc, todos os donos de um ecrãn táctil, (os quais são cada vez mais da forma como a publicidade agressiva nos quer convencer que precisamos de um) movem o ecran de forma exibicionista, em movimentos de mão dignos de um ilusionista sobre o palco, em excessivas reviravoltas de pulso, exercendo controlados níveis de pressão sobre o ecrãn, para abrir...uma régua ou qualquer outra aplicação infantil de menos utilidade que o Pong. Valha-nos que eles são o futuro, valha-nos isso, pois talvez se banalize, talvez se torne habitual mover o ecran táctil e então nessa data, os sobranceiros "táctileiros" se movam mais casualmente, um casual descontrolado e desenfreado, o mesmo casual com que fazemos café de manhã na nossa velha cafeteira (nexpressos não contam). Mas até esse dia, resta-nos esperar e suportar...suportar a velha pedanteria lusitana na utilização de ecrãns tácteis, e eventualmente podemos começar a dizer a todos os "táctileiros"... "olha, o menu não se alterou desde há cinco minutos quando andaste por aí a dedilhar os teus dedos gordurosos, por isso era uma boa altura para parar"

segunda-feira, 17 de novembro de 2008



Talvez um imposto sobre a pobreza?

A última solução em forja para resolver a crise tem sido maravilhosa de assistir, é deixar os pobres arcar com a irresponsabilidade dos ricos.
Depois de anos de políticas de combate ao défice, defendendo o modelo liberal até à medula, eis a consequência, bancos que vão à falência por culpa de gestores irresponsáveis que só mantiveram zelo nas suas próprias contas. O que faz o estado? Nacionaliza.

Excelente, é óptimo saber que é função do estado avalizar operações financeiras que o próprio não sabe (ou pelo número significativo de idas ao Parlamento pelos senhores envolvidos no BPN que foram recusadas nos últimos tempos) que não quer admitir que não sabe, com "nacionalizações" de regime jurídico próprio (Lei 62-A/2008) e perdões de falência.

NÃo, não vou embarcar em teorias justificativas do sub-prime, mas não preciso, em criança jogava monopólio e quando ficava sem dinheiro por causa daquele hotel na rua do Ouro que irresponsávelmente tinha comprado na volta anterior, lerpava. Há coisas simples.

Desculpem-me, mas embarcar numa politica estadual liberal, onde não existe défice público por sacrifício da saúde, educação e investimentos estatais não significa abraçar a falência daqueles que se comportam de forma irresponsável ou com insuficiente agilidade? as constantemente referidas "operações ilícitas" não devem dar lugar a responsabilização criminal daqueles que mandam? Custa-me a crer que a nacionalização seja a melhor forma de proteger aqueles que no...BPN confiaram.

O aval do estado funciona sempre, a ironia é que não funciona porque tem um grupo de gestores seguros e competentes à frente de cadastro financeiro imaculado, funciona porque tem uma cambada de papalvos que não têm mais remédio do que pagar mensalmente uma parte substancial dos seus rendimentos. Se calhar, deviamos criar um imposto específico mensal, um imposto dos pobres para conforto dos ricos, uma pequena bolsa de investimentos era criada para eles brincarem, sem riscos de se magoar, sem riscos de acabar a dormir na rua, porque essa parte do capitalismo, a que doi a todos sem excepção, é feia demais para imaginar.

O que é maravilhoso neste conto de fadas é que, e no mundo inteiro, após anos de irresponsabilidades de gestão de senhores com salários inúmeras vezes superiores ao salário médio nacional, é o estado que tem de intervir para os salvar.

Cá por mim, achava mais útil gastar o dinheiro em camas no IPO ou talvez em tentar segurar a segurança social e deixar estes senhores cair, sei lá, talvez por uma questão de prioridades orçamentais. O governo sempre anuncia que todos os Portugueses devem "aguentar o esforço da contenção estatal", o problema é sempre o mesmo, nunca especificam que o esforço é para alguns.

sábado, 20 de setembro de 2008




Hotel Zagreb

No Hotel Zagreb não se fazem grandes negócios. Não somos recebidos num hall de entrada faustuoso por um recepcionista de fato e modos delicados. No hotel Zagreb não pagamos 10 dolares por meia hora de uso da rede wireless disponibilizada a preços económicos aos hóspedes. Não, no hotel Zagreb os grandes negócios fugiram ainda antes das baratas terem escapado. O cheiro de flores do dia foi trocado por um cheiro de fritos que atravessa o restaurante, passeando pelos bigodes dos hóspedes dignos de tal sítio, recebendo todo e qualquer hóspede dessa grandiosa instituição. No hotel Zagreb, a recepcionista olha com ar desconfiado a nota que recebe e, cheirando-a, consegue ver se é verdadeira enquanto larga uma chave presa por um cadeado excessivamente pesado. No Hotel zagreb uma alcatifa velha e de cor desbotada acompanha-nos até ao quarto. É um edifício velho, com ar de construção soviética, de dois andares que se prolongam de forma monótona. Do senhor da fotografia de cor desbotada da brochura que nos entregaram, existe apenas um velho cansado que, no seu fato desbotado, fala em tom agressivo com um homem velho o qual, sentado numa cadeira desconfortável no hall de entrada, passeia os seus olhos pelos hóspedes que passam. Certamente, quando o hotel tem menos clientes, o velho passeia ele próprio pelos corredores, tocando as paredes e recordando os tempos de comunismo em que aquele edifício tinha mais orgulho, mais valor do que tem hoje, enquanto recebe os ténis deste velho que se passeia em fato de treino.
O quarto tem o distinto cheiro de quarto nunca lavado. Sem poças de sangue nem baratas, só se pode concluir que estas se mudaram para um sítio mais limpo. Debaixo da tampa do aquecedor encontra-se um aquecimento a óleo, o qual nunca foi ligado e sustém duas meias, esquecidas por alguém que esteve um dia naquele hotel. Os tons de vermelho e verde dos quartos faz imaginar fardas da stazi pintadas por kandinski e os canos exteriores da casa-de-banho, quando abanam por alguém noutro quarto usar as instalações, transpiram e reclamam por uma substituição.
É assim o Hotel Zagreb, onde grandes negócios já não se fazem, onde os hóspedes não se fazem por encontrar, onde o único fato que por lá passeia, é de treino. É aquele mesmo hotel, onde as fotos promocionais se fizeram em polaroid apanhando um dono que se orgulhava e que hoje, vê o seu hotel envelhecer como ele.

domingo, 14 de setembro de 2008

Eleições nos EUA

Sim, eu defendo que todos devemos falar com autoridade sobre temas que vão muito mais longe do que a nossa esfera de compreensão, falar sobre temas dos quais não compreendemos a fundo. Desta arte, onde basta fazer ar de quem sabe o que diz depois de ler três paginas da newsweek, aprendi tudo o que sei com o Nuno Rogeiro.
As eleições nos Estados Unidos da América, lia no outro dia, serão a escolha dos Estados Unidos sobre o género de liderança que pretendem ter internacionalmente no que poderá ser o último decénio de dominio internacional claro deste país.
A emergência de novas potências como a China e a India colocam o modelo de dominio ango-saxónico em causa e consequentemente, obriga os Estados Unidos a tomar uma posição, ou conciliadora e conversadora (quem nunca esteve à rasca e não se sentiu tentado a recorrer ao velho recurso do: "...mas querida, não podemos falar sobre isto?") ou endurecimento da posição militar aproveitando a hegemonia neste campo que ainda têm (ou "trocar o mau argumento por um bom soco nos queixos"), Votar Obama ou Mccain é escolher, correspondentemente, a primeira ou a segunda atitude.
Cá para mim, independentemente disto poder ocorrer ou não, continuo a achar que os Americanos votam internamente, ou seja, o PIB americano e a taxa de desemprego são os elementos que realmente decidem eleições naquele país.
A tragédia é que todos nós sofremos com a escolha dos americanos para quem será o seu presidente, mas direito de voto naquelas eleições ninguém nos dá.
Obama ou Mccain, nenhum me serve, pois nenhum tem qualquer interesse no meu bem-estar. (para esse efeito o verdadeiro infortunio é que aqueles para quem eu voto também não se preocupam com o meu bem-estar, mas isso é outro problema).
Entretanto, enquanto tudo isto se passa, membros do staff da casa branca passeiam pelas zonas do globo em termos que mais se assemelham a representantes de Roma que andam pelas provincias, e quando o Chavéz expulsa o embaixador com um "vayanse al Carajo, yankees de mierda", começo imaginá-lo como "HugoChavix", o gaulês que fez o manguito ao império.

A ver no que dá, conciliação ou repressão.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

"aquela"história



Antes de mais tenho de deixar claro: Eu não sou sportinguista. Tenho igualmente que deixar claro, este post é sobre muito mais que futebol, é sobre coincidências e sobre uma negra premonição.

A selecção nacional da minha infância voltou, subitamente, enquanto a Dinamarca marcava o terceiro golo, nos segundos em que aquela bola voava para dentro da baliza, vi tudo.

Vi o estádio de Alvalade, vi o Queiroz no banco e uma cambada de loiros que me pareciam o Casino de Salzburgo.

Portugal voltou a ser o que era, não uma cínica equipa ganhadora, mas sim aqueles gajos que toda a gente que não é Portuguesa gosta, porque jogam bem mas nunca ganham.

Lembrei-me de uma amiga minha também, aquela que diz que os homens são como o Sporting, desiludem sempre.

Relaxem, voltámos ao que sempre fomos. Pelo meio perdemos um euro e tal, mas é sempre relaxante não ter grandes expectativas, faz com que tudo o que venha seja ganho

domingo, 22 de junho de 2008

Devo comunicar que passei a gerir a minha vida de forma semelhante ao governo do país pelo nosso actual Governo. Afinal, eles é que sabem. Digo mais, funciona, ora note-se:
No trabalho, passei a ficar mais horas no café, dessa forma, consigo sair mais tarde sem esforço e aumentei a minha produtividade em 12%. Refira-se igualmente, que apliquei uma reforma "simplex" ao meu trabalho e reduzi drasticamente o tamanho dos meus pareceres, (poderia ter tentado reduzir outra coisa mais, mas os pareceres eram a reforma mais fácil e demagógica), assim, consigo escrever mais 20% de número total de pareceres ao mês, o que dá resultados estrondosos ao final do ano. O meu chefe, a quem agora chamo carinhosamente "Bruxelas", ficará certamente contente. Diga-se igualmente que continuo a discutir alegremente com os meus colegas de sala, mas desde que adoptei uma política de consertação social de acordo com o actual governo (e sejamos honestos, os últimos 5 governos), não me preocupo com o que eles dizem. Só isto reduziu a estatísticas das minhas preocupações em 7% e levou à auto-proclamação da minha nova política como um sucesso.
Na minha vida pessoal, os resultados têm sido igualmente satisfatórios, certas contas tenho de pagar, mas outras realmente não. O seguro automóvel por exemplo, por ser algo que afecta apenas terceiros, deixei de pagar (obviamente foi uma séria redução do défice). Para fazer face ao aumento dos bens essenciais, nomeadamente da gasolina e da energia em geral, criei um imposto em casa, agora, uma taxa liberatória de cinquenta cêntimos aplica-se a quem quiser usar o computador. Infelizmente, não tem funcionado muito bem, os meus filhos passaram a usar menos o computador e a não entregar os trabalhos na escola e o que eu queria mesmo era a colecta da taxa. Contudo, a questão da educação dos meus filhos também a resolvi bem, transferi-os para uma escola pior, assim, as notas deles subiram em aproximadamente 10% sem na verdade estudarem. Quanto a livros escolares, usam os livros do 1º ciclo apesar de estarem no 3º ciclo, assim estão mais bem preparados para os exames nacionais. Ao jantar, todos dissemos que somos todos muito inteligentes e assim subimos a moral familiar. Em seguida, criei um sistema de multas para quem não segurasse bem os talheres e mastigasse de boca cheia, a receita reverterá para mim, é claro, mas com consignação de dez por cento para a minha mulher, a quem competirá decidir da justiça da aplicação da contra-ordenação. O objectivo deste regime é claro, só e apenas garantir educação à mesa. Para acautelar a independência e isenção na sua aplicação, o regime não se aplica nem a mim nem à minha mulher.
Como os meus filhos não saberão ler daqui a uns anos, comecei a vender os livros que havia cá em casa, o rendimento extra tem sido usado em despesas correntes minhas e da minha mulher, afinal, a vida está cara e o novo BMW é a coisa mais linda do mundo, pese a desvalorização do carro ser óbvia. Se a coisa descambar, faço um empréstimo sobre a casa e o défice familiar ficará corrigido.
Como os beneficiados sou eu próprio e a minha mulher e entre nós dividimos o governo da casa, decidimos tratar as novas regras como "política de estado", apesar do meu sogro lhe ter chamado "concertação partidária". Como nunca percebi a diferença entre estado e governo não sei bem o que é que ele queria dizer, mas chumbámos a ideia por nos parecer perigosa.
A única coisa que correu mal foi o futuro, tentei hipotecar o futuro da minha familia, mas devido ao novo pacote legislativo familiar, disseram eles no banco, não aceitam.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007



"y" multiplicado por 9.999.999 = Portugal


Sendo que "y" é a resposta. Todos os portugueses têm a resposta, todos têm, no seu discurso, a certeza que com eles tudo funcionaria "se fosse eu fazia assim e assim", é o discurso desde a política ao futebol passando pelas melhores formas de manter a mulher fechada em casa. A sorte de Portugal é que todos saberiam como, no poder, por isto a funcionar.

"O pior é deixá-los chegar ao poder, quando se sentem no poder ficam cegos déspotas, são capazes de criar regras até sobre a utilização da fotocopiadora do escritório. Vê-se quando conduzem, maníacos e tiranos, nenhum povo tem uma propensão tão grande para o abuso de poder. Por isso, e pelas ameijoas, gosto de viver em Portugal. Eles divertem-se, pequenos napoleões de merda." (Bolivar, 12 de Agosto de 1988)