Há poucos dias o projecto de domingo à tarde foi um verdadeiro projecto de domingo à tarde.Cinema.
O filme foi o "Nas Nuvens", "Up in the air" de Jason Reitman. Porquê? Era um filme de domingo à tarde. (sic!) A conclusão? A conclusão é que "Up in the air" is more than what catches the eye.
A história de Ryan com o seu emprego em que é obrigado a voar pelo país inteiro constantemente fazendo a sua vida de quartos de hotel pode ser transposta para uma realidade actual que fica além das milhas somadas a voar na American Airlines. A forma como hoje vivemos em contactos com as nossas "redes sociais" encaixa-se perfeitamente neste filme.
O facto é que as redes sociais são uma realidade com alguns anos, mas nunca como nos últimos dois anos, redes como o facebook e o twitter tomaram tanta relevância. Se são um mero hype ou se vieram para ficar de forma definitiva, o tempo o dirá, mas que marcam a nossa forma de comunicar com as pessoas que nos rodeiam, dúvido que o cunho não fique para relações futuras.
A semelhança entre as duas realidades, "Ryan, o viajante" e "anónimo, o navegador de internet" é da superficialidade das relações criadas. Costumo dizer que a grande vantagem do facebook e twitter e "alikes" é que, com alguma habilidade, possibilitam manter à distância pessoas, deixando-as sentindo que estão perto. A troca de futilidades e comentários de ocasião, transmitem uma sensação de companhia que, na verdade, não está lá. É essa realidade desumana que Ryan partilha, vivendo em movimento e em total distanciamento de relações reais, e é isso o melhor que podemos tirar do filme, como todos podemos criar uma vida confortável afastado do "peso" das relações humanas que realmente importam, um mundo sem solidariedade e trocámos os nossos amigos por cartões de fidelização nas principais marcas. O aparente conforto que existe nesse mundo, que nos tenta fazer sentir especiais é, afinal, um grande nada perante o que realmente conta. A vida a sério, a vida em comunidade, a vida com pessoas em nosso redor que nos dão trabalho. Pessoas, com quem temos relações das quais não podemos fazer Logout.
Sob um George Clooney clonado do Michael Clayton esconde-se um herói pícaro moderno, que se dá conta um dia da fantasia (da virtualidade) da sua realidade, precisamente quanto tenta quebrar o ambiente em que ele se rodeou, é uma missão dificil, senão mesmo impossível. Quase tão impossível como tentar ter uma conversa séria em 160 caracteres tweetianos.
É nesse plano, que Up in the Air ganha interesse.