terça-feira, 23 de outubro de 2007



Amor Causídico


Sim, neste blog também há espaço para falar sobre o amor. Faz parte da puta da vida e é um fertil terreno para discorrer sentimentos cáusticos. Claro que há espaço para falar sobre o amor.


No domingo fui acordado com o telefone a tocar, seria a uma da tarde e não reconheci o número. Atendi e era uma ex-namorada. Não uma qualquer, mas um daquelas que foram porcas connosco e seguiram em frente, nos cuspiram e nos fizeram ouvir Smiths durante meses a fio e nos obrigou a enterrar em noites de copos na rua com amigos tentando esquecer que nos sentimos miseráveis. Sim, uma dessas, todos temos.


Estava perto de minha casa, convida para um café enquanto espera outra coisa qualquer no plano egoísta do dia e feito parvo, ainda com sono, aceitei. Aceitamos sempre não é? Nunca nos livramos daquele sentimento misto, por um lado um desejo secreto que seja atropelada por um TIR e por outro que o acidente, embora grave, seja curável e que reconheça o facto que ficámos a dormir ao lado dela, com sorte lendo durante o coma e nos agradeça o resto da vida com amor genuíno.


bom, durante o café, recorde-se que somos os dois formados em direito, há um processo a seguir, vício profissional #1, há sempre um processo, mesmo quando é daqueles em que, ao bom estilo de kafka, nos sentimos o cão abatido sem saber porquê. Um processo lento e doloroso (vício profissional #2, o processo é sempre lento e doloroso) em que discutimos as novidades, ou melhor, não as discutimos, perguntamos as novidades não querendo saber ao certo grandes pormenor mas com ansiosidade estamos presos a cada palavra. Entra então a matéria de facto, uma narrativa de factos, (vício profissional #3, primeiro a matéria de facto, depois a matéria de direito), começa-se pelo trabalho, ou a familia, ou a conta do mecanico ou o que for, um facto trivial cai sempre bem, como se fosse a piada que inaugura o discurso (vicio profissional #4, de certa forma, há sempre uma bancada para a qual falamos). Em seguida, ela larga, em tom de bomba, "eu e o Zé continuamos bem". Ora foda-se, é aqui que se revela todo o animal jurídico dentro da pessoa. A notificação que a relação corre bem. Note-se que usa o nome de uma pessoa que nem conhecemos, mas tem de notificar, porque senão, perde-se o caso, (morre a argumentação!), ora note-se.


V dixit (não, não se chama Vanessa, ou vicki ou outra coisa qualquer, é mesmo porque nunca deixou de ser vaca): a minha irmã está bem... ... eu e o Zé também estamos bem e o meu cato morreu (a parte do "e o meu cato morreu" pode ser substituida por qualquer outra informação irrelevante), o que é fantástico é a falta de pausa. Assim, estou notificado. Há uma relação, se eu sabia dela não posso dizer que ela me escondeu o facto. Assume que me interessa saber (que lata... a dobrar porque de facto quero saber), sabe que há uma luta escondida dentro de mim para querer saber e querer não querer saber, e resolve-a, dando vitória ao lado que mais lhe interessa. toma, toma, fica a saber e a pensar nisso.


É curioso o jogo, uma dança das abelhas vestidas de toga que argumentam, antecipam a prova, ganham o caso. Indicam logo, há alguém e estamos felizes. Mas não como quem o esfrega na cara de alguém, apenas como alguém que se defende por antecipação, eu avisei. eu disse que estavamos bem. não podes dizer que não avisei. não podes dizer nada. não tens razão. sou feliz. estou com outra pessoa. não quero saber de ti. ganhei!


E como sempre, quem ganha fica com os espólios, neste caso, o Zé.


De que me serve ter ultrapassado a coisa? De nada, a batalha legal continuará sempre em recursos intermináveis, ex-relações causídicas são cansativas.

5 comentários:

Anónimo disse...

o que mais me espanta é ainda teres estômago para tudo isto.

no fundo será que a vossa relação não passou de uma enorme batalha de jurisprudência dos sentimentos?

pelo sim pelo não eu metia uma providência cautelar contra os telefonemas, cafés e outros.mas apenas contra a ex.


no fundo todos nós somos assim...

ps.como sempre atómico e sem responsabilidade civil.

o bardo disse...

Estúpido não é o que erra...é quem insiste no erro. Ainda assim, é como dizem os phoenix no seu "if i ever feel better": "Now I know there's much more dignity in defeat than in the brightest victory"... ele que fique com os espólios...mantém a tua dignidade!

pinga tacos disse...

Rain drops keep falling on my head...

Anónimo disse...

"Have you ever been in love? Horrible isn't it? It makes you so vulnerable. It opens your chest and it opens up your heart and it means that someone can get inside you and mess you up. You build up all these defenses, you build up a whole suit of armor, so that nothing can hurt you, then one stupid person, no different from any other stupid person, wanders into your stupid life...You give them a piece of you. They didn't ask for it. They did something dumb one day, like kiss you or smile at you, and then your life isn't your own anymore. Love takes hostages. It gets inside you. It eats you out and leaves you crying in the darkness, so simple a phrase like 'maybe we should be just friends' turns into a glass splinter working its way into your heart. It hurts. Not just in the imagination. Not just in the mind. It's a soul-hurt, a real gets-inside-you-and-rips-you-apart pain. I hate love....."

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Tantas palavras podem ser ditas nestes casos. mas não passariam de palavras, palavras que vão e vêm, que nada podem curar nem atenuar. "tudo faz parte da vida" "ficamos mais fortes" "etc etc etc"!! Tudo mentiras! Pelo menos naqueles momentos em que somos forçados a ouvi-las e não fazem o mínimo de sentido e tudo o que mais queremos é que se "CALEM porra, antes que parta para a violência e descarregue todos os meus sentimentos reprimidos e toda a minha miserável frustração em vocês”. Sim, em vocês, vocês que gostam de mim, e me apoiam, que estão aqui agora quando eu mais preciso" (afinal alguém tem que apanhar).
Há coisas que não passam. Há coisas que depois de muito tempo ficam. E que aquando de um café fortuito nos levam a ficar a pensar nisso uns bons dias… a recordar o sabor amargo do café misturado com o aroma delicioso que outrora já teve.
Mais vale aprender a viver com tudo isto e dar importância apenas ao que tem importância!

Mia Pierrèt disse...

i hate love... this moment.
I hate the "ex" because they remind me i was stupid, one day.. for many days on...
Just hate the "ex-effect".

baci