terça-feira, 16 de outubro de 2007






Uma geração - Parte I



O mundo está feio, assim o dizem a boca cheia, o mundo que herdámos é desdenhado por todos. As gerações mais velhas, fazem-no com pena, mas limitada a quem sabe que este mundo é mais para nós que para eles. Nós contudo, os da nossa geração, deixamo-nos arrastar num conformismo que apenas tem uma vitima, nós que neste mundo teremos de viver. Quem me dá um carro velho dizendo que não presta, pode até ter razão, mas cabe-nos a nós restaurá-lo, não aceitar com derrotismo que nunca será um bom carro.

Discutir se a culpa dum antecipado e anunciado fracasso da nossa geração é nosso ou não, parece-me uma discussão sem grande sentido ou utilidade prática. Não só porque tal discussão será, no mínimo precoce, como o único sinal de falhanço que encontro na nossa geração é a fragilidade perante uma morte anunciada. Esquecem-se contudo que, mortes anunciadas, dão pelo menos a tranquilidade de sabermos quando e como vamos morrer e essa informação ainda ninguém nos deu.

Mortas estão gerações anteriores, mortas estão aquelas que nos deviam dar exemplos, em Portugal e não só. Poetas que cantaram alma trans-lusitana queixam-se hoje da libertinagem que ocupou o lugar que tinham idealizado para a liberdade. É verdade, mas quem falhou foram os poetas que se julgaram oráculos. Não o são, e um mundo que não é feito de poesia é um fracasso vosso, não nosso. Descansa poeta, também poeta algum alguma vez alcançou um mundo de poesia, seria a vossa morte.

Mortos estão os políticos anteriores, que em cadáveres parlamentares se transformaram, grandes revolucionários que me saíram. Daniel Cohn-Bendit, que pediste o impossível, acabaste no Parlamento Europeu a defender os verdes. À altura parecia impossível, de facto, que algum dia vendesses o teu sonho. Não te preocupes Revolucionário, não te preocupes que alguma revolução, em algum canto do mundo, será vitoriosa (mas um dia fracassará, quando deixar de ser revolução e for uma nova ordem a abater)

Mortos estão os terroristas de sonhos marxistas. Os de sorte, alguns de sorte, que outros vivem marginalizados enquanto criminosos. Piancone, um dos comandantes das Brigadas Vermelhas, foi preso este mês por roubar um banco. Não te preocupes Revolucionário, a culpa não é tua! Todos sabemos que um terrorista é um ladrão com um ideal. A ti, roubaram-te o teu ideal fazendo-te mero criminoso, roubaste-os de volta do ideal deles. (170.000 euros de ideal capitalista ao que parece).

À queda do Muro de Berlim seguiu-se este mundo, estes mascarados sob esquerda e direita que nem no alfaiate se fazem diferenciar. Todos apontam na mesma direcção na altura de fazer as calças. Foi neste mundo que crescemos, onde nos querem fazer acreditar num inimigo sem máscara vindo das Arábias. O único inimigo contudo que vemos é o do dinheiro com personalidade juridica, os Trusts, as SA, que crescem, sem realmente nos querer mal, apenas nos acarneirando e alimentando ao mesmo tempo. O pior deste mostro, não é ter sete cabeças, é não ter cabeça, é avançar cegamente e alimentando-nos enquanto nos devora. Que paradoxo que tudo isto é, mas onde raio anda a antítese desta horrível síntese?

1 comentário:

o bardo disse...

Na mesma linha, o joschka fischer que apoiou a intervenção da NATO na ex-jugoslávia... o mesmo que dava abrigo aos operacionais das brigadas vermelhas e cuja fotografia a espancar um polícia causou tanto espanto quando foi revelada ao mundo no virar do milénio...mas sabes, acho mesmo que ainda há pessoas que nunca mudam.